quarta-feira, 30 de março de 2011

MODELO INTEGRAL DE GESTÃO EMPRESARIAL

Os Riscos Psicossociais estão ligados a Organização do Trabalho, ao conteúdo do trabalho e a realização das atividades, se não forem reconhecidos e tratados podem minar o Gerenciamento dos Riscos Ocupacionais, causando resultados não desejáveis, desfavoráveis, como exemplo, o stress, propiciando condutas e atitudes inadequadas no desenvolvimento do trabalho como de determinadas consequências prejudiciais para a saúde e o bem estar do trabalhador.

Não se trata de uma situação local e sim global, o mundo empresarial está diante de uma situação adversa a ser vencida. O problema é que a maioria das empresas não estão focadas e antenadas para estes riscos, deixando essas empresas vulneráveis. Do outro lado os Sindicatos de Trabalhadores, principalmente os europeus, tem apresentado e discutido o problema, seja em, fóruns, pela internet, eventos,

No Brasil o tema está na nossa legislação desde 2003, através da IN n.º 98, de 5 de dezembro de 2003, do INSS, diz que: “Os fatores psicossociais do trabalho são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho. Como exemplo de fatores psicossociais podemos citar: considerações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. A “percepção“ psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é o resultado das características físicas da carga, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho”.

Em dezembro de 2006 este coro foi reforçado pela publicação da NR33 (Espaços Confinados), que pede uma avaliação de riscos psicossociais, principalmente para que não se tenha: insatisfação laboral, problemas de relacionamento, desmotivação, dentre outros.

O reconhecimento, a avaliação e o tratamento destes riscos faz parte da estratégia do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. Uma das mais recentes iniciativas vem do Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo – INSHT publicou em 2011 a NTP 856: “Desarrollo de competencias y riesgos psicosociales (I)”, que versa sobre a conveniência de aplicação de um modelo de desenvolvimento de competências nas organizações para que as Lideranças e Trabalhadores possam enfrentar de maneira transparente aos riscos psicossociais. O texto foi elaborado com base em experiências desenvolvidas em sua aplicação. Este documento complementa a NTP 830: “Integración da prevenção e desarrollo de competencias” na qual foram expostas as bases teóricas e práticas da gestão por competências como uma vía relevante para a integração de sistemas e o desenvolvimento organizacional.

A NTP 856 apresenta que é absolutamente necessária a integração da prevenção em todas as áreas e processos, como a NBR ISO 31000: Gestão de Riscos recomenda e isto inclui os riscos psicossociais. Uma efetiva aplicação da psicossociología do Trabalho precisa desde o início, de uma visão e ação integradora, que deve ser alimentada da investigação social, da reflexão e da análise multidimensional e multidisciplinar, que inclui maturidade, abrangência e profundidade, cultura para que se compreenda a organização e suas particularidades, incluindo seus processos, tarefas e suas inter-relações.

Ocorre que isto dá trabalho, precisa de gente com habilidade, e isto leva a existir o medo do desconhecido, de se mexer em “vespeiro” e a iniciativa não pode partir do SESMT, porque transcende suas fronteiras, impacta direto na performance da empresa. O mais complicado nisto é que muitas desconhecem e não avaliam as vantagens que existem em enfrentar estas questões, então muitas optam por medidas pontuais e fazendo acertos que são paliativos.

O modelo estruturado da Nota Técnica está apresentado na Figura 1.


Figura 1: Modelo Integral de Gestão Empresarial (Fonte NTP 856)

A Figura 1 mostra graficamente o modelo integral de gestão empresarial proposto na Nota Técnica, ela tem a forma de um triângulo, que reflete os diferentes elementos conceituais da ação para o desenvolvimento de competências. Ele deve servir de referencial, para gerar os resultados esperados tanto a nível: individual, como da organização do trabalho e os sociais. Ela está dividida em quatro partes:

1ª. Parte - Valores: Na base estão os “valores” conquistados pela Organização alicerçando sua Gestão. É o elemento de partida, sem um bom alicerce vai ficar difícil atingir o “cume” com resultados positivos. Tem uma frase do Renato Russo que sintetiza isto: “Lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa”.

2ª. Parte - Controle: que trata do “Desenvolvimento de Competências”, é o elemento central e integrador, é o equilíbrio dinâmico das necessidades dos processos operacionais e as necessidades das pessoas. O modelo inclui quatro subsistemas prioritários, que são: Inovação, Condições de Trabalho (SST), Ambiental e Qualidade. Este controle deve sinalizar o comportamento das pessoas, que vão repercutir nas causas (3ª. Parte) e nos resultados (4ª. Parte).

3ª. Parte - Causas: Estão no triângulo: conhecimentos, competências e condições ambientais e organizacionais. O controle e as causas são fundamentais para as estratégias do gerenciamento.

4ª. Parte – Resultados: Os resultados indicam a performance sobre três vertentes: sobre o indivíduo, sobre a Organização, e os Sociais (Coletivos), que são as consequências das atitudes.

Esta NTP está baseada no diálogo, que facilita a tomada de consciência, da necessidade da avaliação e do controle dos riscos psicossociais, que deve estar baseada no compromisso da direção e dos trabalhadores, conciliando posturas, criando as condições que tornem possível a construção de novas realidades e de um sistema de gestão empresarial na qual todos se sentirão co-responsáveis e participantes integrados, algo essencial para poder conduzir com sucesso todo Processo de Mudança.

Estabelecer, implantar e manter o gerenciamento dos riscos psicossociais é para aqueles que gostam de enfrentar desafios, devido não ter uma fórmula a ser seguida e um alto grau de incertezas. É para os que estão preocupados em ter uma visão holística do mundo, um mundo que queremos melhor.

Para terminar um trecho da música “Medo” da cantora Pitty e do Martin, para sua reflexão, diz assim:


“Medo de ter, medo de perder
Cada um tem os seus
E todos tem alguns
Suando frio, as mãos geladas
Coração dispara até sufocar

Só tememos por nós mesmos
Ou por aqueles que amamos
Homem que nada teme
É homem que nada ama”

Traduza este texto para sua realidade, divulgue e faça comentários eu gostaria de recebê-los.

ARmando Campos

terça-feira, 1 de março de 2011

O QUE ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE TANTOS ACIDENTES?

Não sei se todos estão acompanhando mas neste início de ano o número de acidentes do trabalho deu um salto, é acidente para todo lado. Basta entrar na Internet, não precisa ser mídia especializada, nos principais jornais eletrônicos do pais eles estão lá. 

É difícil de entender afinal a legislação trabalhista e previdenciária não foi flexibilizada,nem os processos de trabalho tiveram tantas mudanças. Então o que está por trás disto, qualquer ilação seria blefar, pois não temos dados suficientes para fazer uma avaliação consistente, o problema é que isto está se repetindo de norte a sul, inclusive com acidentes fatais.

A lista é grande, mas vamos relacionar alguns exemplos:

a) Homem morre intoxicado por gás cloro numa fábrica de produtos químicos, em Nova Santa Rita, no estado do Rio Grande do Sul, em 4 de janeiro de 2011.

b) Homem morre por descarga elétrica, no momento em que realizava um reparo numa obra de reforma. O homem estabeleceu contato entre calha metálica e a rede de alta tensão da rua e morreu instantaneamente, em São José do Rio Pardo, em São Paulo, em 24 de janeiro de 2011.

c) Um elevador de serviço de um prédio em construção no centro de Curitiba, no estado do Paraná, caiu 28 andares e deixou três operários feridos em 27 de janeiro de 2011.

d) Um trabalhador ficou ferido após cair de uma escada enquanto trabalhava, na manhã de 31 de janeiro de 2011, em Maringá, no estado do Paraná.

e) desabamento do prédio de mais de 30 andares, com três vítimas fatais em Belém, no Pará, em 29 de janeiro de 2011.



Figura: Prédio desaba em Belém/PA (Fonte: www.uol.com.br)

e) Engenheiro de empresa terceirizada que trabalhava nas obras da Estação Fradique Coutinho da Linha 4 - Amarela, no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, no estado de São Paulo, morreu na madrugada do dia 1º de fevereiro de 2011, depois de levar uma descarga elétrica de 20 mil volts.

f) Obra de shopping é interditada pela Subprefeitura de Santo Amaro após desabamento parcial da mesma, na manhã do dia 03 de fevereiro de 2011, um operário ficou ferido.



(Fonte: www.folha.com.br)

g) Na tarde do dia 23 de fevereiro de 2011, ocorreu uma explosão, o acidente teria sido provocado por um rompimento na linha de transmissão do sistema de ar, o que gerou um princípio de incêndio que foi rapidamente controlado, na Termoelétrica Murici, deixando seis funcionários feridos. A Termoelétrica fica no Polo Petroquímico de Camaçari, na região metropolitana da cidade de Salvador, no estado da Bahia.

h) Explosão em obra do metrô de Salvador deixa três trabalhadores feridos durante a atividade de soldagem de um tonel, no dia 24 de fevereiro de 2011, na cidade de Salvador, no estado da Bahia.

As causas desses acidentes deveriam vir a público, até porque quando são divulgados eles levantam a audiência da mídia televisiva e as famílias brasileiras vão sendo imersas neste mundo sem refletir o que está por trás de tudo isto e o que é pior muitos fazem a leitura de que a impunidade está ganhando e estão certos.

Justo agora em que tivemos várias contribuições para melhorarmos a Gestão dos Riscos, seja com a publicação pela ABNT das: NBR ISO 31.000: Gestão de Riscos e da NBR 18801: Sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho — Requisitos (1ª. Norma de gestão em SST do Brasil) em dezembro de 2010, bem como as últimas mudanças nas Normas Regulamentadoras: 03, 06, 12, 18, 22 e a 34, com destaque para a 03 (Embargo ou Interdição), a 12 (Máquinas e Equipamentos), que veio com um texto revigorado, com os referenciais das normas da ABNT, a 34 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho a Indústria da Construção e Reparação Naval), que preenche uma lacuna considerável uma vez que decidimos fomentar empregos construindo navios por aqui e era imprescindível um referencial nesta área e por fim a 18 (Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção) que veio disciplinar a questão “incontrolável” do uso de andaimes (maior número de interdições, é caso de polícia) .

Nós do SESMT e afins sabemos que o Gerenciamento dos Riscos Ocupacionais é um processo contínuo, dinâmico e que deve estar evoluindo sempre para que seus objetivos e metas aconteçam. A Alta Direção das organizações deve estar focada e antenada a todos os resultados de seu desempenho e se eles refletem a realidade, deve ser verificada como a vida pulsa nestes ambientes (queixas, sugestões, escravidão, formação, informação, medo), de forma que estratégias sejam definidas, adotadas, implementadas e que suas ações corretivas sejam mantidas com eficácia.

Neste contexto a disciplina é fundamental, os riscos das atividades rotineiras e não rotineiras precisam estar mapeados e seus controles definidos, implementados e mantidos, um cuidado especial deve ser dedicado aos riscos emergentes (ex:nanotecnologia, auto-emprego, outsourcing,..).

A Previdência Social do Brasil tem levantado a bandeira da Cultura da Prevenção, só os sábios intolerantes e os dinossauros não encampam esta idéia, que parece ser impossível de ser atingida mas não é, ela está atrelada a cultura da organização (se precisar faça só o óbvio), crie uma política eficaz e uma Gestão de SST pro mundo ver, mantenha autoridades e responsabilidades em SST definidas e faça cobrança disto, garanto que se for feito com amor é quase sempre perfeito.

O jogo está sendo jogado, Direção defina suas estratégias e táticas, membros do SESMT e afins, vivam e gerenciem as mudanças para a melhoria das condições de trabalho e trabalhadores joguem o jogo com dignidade, responsabilidade e muito trabalho de equipe. A gente tem condição de virar o jogo destas estatísticas de acidentes é só cada um dar o melhor de si.

E para terminar uma frase da Dra. Márcia Bandini, que o Doutor René Mendes usou como reflexão em sua palestra (forma como tomei conhecimento dela) no IBP em abril de 2010, diz assim:

"Minha mensagem seria a de que os profissionais de SST
precisam ir muito além do conhecimento técnico.
Habilidades como boa comunicação, capacidade de negociação,
motivação e "venda" de projetos estão na "pauta" do dia.”

(Dra. Marcia Bandini, abril de 2010)

Traduza este texto para sua realidade e faça comentários eu gostaria de recebê-los.

ARmando Campos